O sul peruano concentra a maior diversidade de paisagens e culturas do país. Desde os picos nevados dos Andes até as profundezas da selva amazônica, passando por desertos costeiros e o lago navegável mais alto do mundo, esta região oferece experiências que transformam a perspectiva de qualquer viajante sobre o que significa explorar o Peru autêntico.
Principais destinos turísticos do sul
Cusco e Machu Picchu
A antiga capital do império inca se ergue a 3.399 metros acima do nível do mar, fundindo arquitetura pré-hispânica com construções coloniais em um cenário urbano único na América Latina. A partir daqui, você terá acesso à rede de sítios arqueológicos mais impressionante do continente.
Praça Principal e centro histórico
A praça principal de Cusco te recebe com uma arquitetura que narra cinco séculos de história sobreposta. As paredes incas de pedra polida servem como fundação para igrejas barrocas e mansões coloniais que cercam a praça pavimentada. A Catedral, construída sobre o palácio do inca Viracocha, abriga mais de 400 telas da escola cusquenha de pintura, incluindo a famosa representação da Última Ceia com cuy como prato principal.
Você caminhará por ruas pavimentadas onde cada esquina revela paredes incas perfeitamente encaixadas sem argamassa. A rua Hatunrumiyoc exibe a pedra de doze ângulos, um exemplo extraordinário da precisão arquitetônica inca. Os balcões de madeira esculpida das casas coloniais contrastam com a sobriedade das paredes pré-hispânicas, criando uma paisagem urbana irrepetível.
Os mercados de San Pedro e San Blas funcionam desde as 5:00 da manhã, oferecendo produtos andinos como quinua, kiwicha e batatas nativas em mais de 50 variedades. Aqui, você experimentará sucos de frutas amazônicas como camu camu e aguaymanto, enquanto observa a troca comercial que mantém vivas as tradições ancestrais de troca.

Vale Sagrado dos Incas
O rio Vilcanota serpenteia por este vale a 2.800 metros de altitude, criando um microclima que permitiu aos incas desenvolver a agricultura mais sofisticada da América pré-colombiana. As terras agrícolas de Pisac se estendem pelas encostas montanhosas como degraus gigantes, demonstrando técnicas de irrigação que continuam funcionando após 500 anos.
Em Ollantaytambo, você descobrirá a única cidade inca que permanece habitada continuamente. Suas ruas de pedra mantêm o sistema de drenagem original, enquanto as casas atuais são construídas sobre fundações pré-hispânicas. A fortaleza de Ollantaytambo apresenta blocos de granito de até 50 toneladas transportados de pedreiras localizadas a 8 quilômetros de distância, evidenciando a capacidade logística do império inca.
Os mercados dominicais de Pisac reúnem comunidades camponesas de toda a região. Você encontrará têxteis elaborados com técnicas ancestrais, cerâmicas que reproduzem designs pré-incas e instrumentos musicais andinos. Os moradores vestem trajes tradicionais não para turistas, mas como parte de sua identidade cultural cotidiana.

Cidadela de Machu Picchu
A cidade perdida dos incas se revela gradualmente enquanto o trem zigzagueia pelo cânion do rio Urubamba. Construída em 1450 d.C. sobre uma montanha de granito a 2.430 metros de altura, Machu Picchu representa a síntese perfeita entre arquitetura e paisagem natural.
A entrada antecipada às 6:00 da manhã permitirá que você experimente o amanhecer da Casa do Guardião, observando como os primeiros raios solares iluminam as terras agrícolas enquanto a neblina se dissipa lentamente. O Templo do Sol apresenta janelas orientadas astronomicamente para marcar os solstícios, demonstrando os conhecimentos científicos de seus construtores.
A subida a Huayna Picchu requer reserva prévia e bom estado físico para subir 400 metros por trilhas incas originais. Do cume, Machu Picchu é apreciada em toda a sua magnitude, mostrando o planejamento urbano que integra 200 estruturas distribuídas em setores agrícola, urbano e religioso.
O Templo das Três Janelas simboliza os três mundos da cosmologia andina, enquanto a Pedra Intihuatana funciona como relógio solar e calendário astronômico. Cada estrutura revela aspectos de uma civilização que alcançou níveis de sofisticação comparáveis às grandes culturas do mundo antigo.
Montanha de sete cores
Vinicunca, conhecida como a Montanha Arco-íris, apresenta estratos minerais que criam faixas de cores naturais a 5.200 metros de altitude. A caminhada de 3 horas a partir de Pitumarca levará você por paisagens altoandinas onde pastam alpacas e lhamas em pradarias que se estendem até o horizonte.
As cores avermelhadas vêm de óxidos de ferro, os amarelos de sulfeto ferroso, e os verdes de minerais de magnésio e ferro. Este fenômeno geológico, revelado recentemente pelo derretimento glacial, atrai fotografias de diferentes ângulos durante o percurso.
A altitude extrema exige aclimatação prévia em Cusco durante pelo menos dois dias. Leve roupas quentes, pois as temperaturas podem cair abaixo de zero mesmo durante o dia. Alguns operadores oferecem cavalos para o trecho final da subida, reduzindo o esforço físico necessário.

Arequipa e o vale do Colca
A “Cidade Branca” construída com sillar vulcânico se ergue a 2.335 metros em um vale rodeado por três vulcões: Misti, Chachani e Pichu Pichu. Seu centro histórico colonial, declarado Patrimônio da Humanidade, mantém a arquitetura virreinal melhor conservada do Peru.
Praça Principal e mosteiro de Santa Catalina
A praça principal de Arequipa apresenta uma arquitetura homogênea de sillar branco que reflete a luz solar criando um ambiente luminoso único no Peru. A Catedral ocupa todo um lado da praça com sua fachada neoclássica e torres que se recortam contra o vulcão Misti. Seus órgãos europeus do século XIX e o púlpito esculpido em madeira francesa representam tesouros artísticos coloniais excepcionais.
O Mosteiro de Santa Catalina, fundado em 1579, funciona como uma cidade dentro da cidade. Seus 20.000 metros quadrados incluem ruas pavimentadas, praças internas e celas que recriam a vida conventual de quatro séculos. As freiras de clausura viviam aqui como em pequenas residências privadas, com empregadas e escravas que atendiam suas necessidades cotidianas.
Você caminhará pela Rua Toledo, pintada em azul anil, e pela Rua Sevilla, em ocre colonial, enquanto observa fornos, lavanderias e refeitórios que mantêm sua funcionalidade original. As celas principais incluem dormitórios, salas de estar e pátios privados que demonstram o nível econômico das famílias que enviavam suas filhas ao convento.
Mirantes de Yanahuara e vulcões
O distrito de Yanahuara oferece a perspectiva mais fotogênica de Arequipa com seus vulcões tutelares. Suas ruas pavimentadas e casas de sillar mantêm o ambiente pueblerino dentro da metrópole moderna. O mirante apresenta arcos de sillar emoldurando o vulcão Misti, que se ergue a 5.822 metros diretamente atrás da cidade.
As picanterias tradicionais de Yanahuara servem especialidades arequipeñas como rocoto recheado, chupe de camarões e adobo arequipeño em ambientes que conservam a arquitetura colonial. Os pátios internos com corredores e jardins centrais recriam a vida doméstica da época virreinal.
O vulcão Misti apresenta uma forma cônica perfeita com cratera visível da cidade. Sua ascensão leva dois dias de trekking técnico, enquanto o Chachani (6.057 metros) oferece uma rota mais acessível para montanhistas experientes. A partir dos mirantes urbanos, você poderá planejar rotas de aproximação observando as diferentes faces desses colossos andinos.
Cânion do Colca e avistamento de cóndores
O cânion mais profundo do mundo atinge 4.160 metros do bordo até o rio, duplicando a profundidade do Grande Cânion do Colorado. O trajeto de Arequipa atravessa a Reserva Nacional Salinas e Aguada Blanca, onde vicunhas, alpacas e flamingos andinos habitam paisagens vulcânicas a mais de 4.000 metros de altitude.
Os povos do vale mantêm tradições agrícolas pré-incas em terras que transformam as encostas áridas em campos verdes escalonados. Chivay, a capital provincial, apresenta águas termais naturais onde você poderá relaxar após a viagem por estradas de montanha.
O mirante da Cruz do Cóndor funciona como um teatro natural para observar o voo desses gigantes andinos. Os cóndores aproveitam as correntes térmicas matutinas para se elevar do fundo do cânion até alturas superiores a 3.000 metros. Sua envergadura de até 3,2 metros permite que planem por horas sem bater as asas.
A observação ideal ocorre entre 8:00 e 10:00 da manhã, quando as correntes de ar ascendente permitem um voo eficiente. Em alguns dias, você poderá ver até 15 cóndores simultaneamente, incluindo juvenis que praticam técnicas de voo sob a supervisão de adultos.

Puno e o lago Titicaca
O lago navegável mais alto do mundo se estende a 3.812 metros de altitude entre o Peru e a Bolívia, cobrindo 8.300 quilômetros quadrados de águas azuis que refletem os picos nevados da cordilheira. As culturas lacustres desenvolveram modos de vida únicos adaptados às condições extremas do altiplano.
Ilhas flutuantes dos Uros
Os Uros constroem ilhas artificiais utilizando totora, uma planta aquática que cresce nas margens do lago. Essas ilhas flutuantes, renovadas constantemente, abrigam famílias inteiras que mantêm tradições de mais de 500 anos. Você caminhará sobre superfícies esponjosas formadas por camadas de totora seca que se balançam suavemente com o movimento da água.
As casas, também construídas com totora, incluem painéis solares que alimentam rádios e televisores, demonstrando como as tradições ancestrais se adaptam à tecnologia moderna. Os habitantes pescam, caçam aves aquáticas e elaboram artesanatos que vendem aos visitantes.
As embarcações tradicionais de totora mantêm designs pré-colombianos com proas em forma de cabeça de puma. Essas balsas podem transportar até oito pessoas e navegar eficientemente pelas águas do lago aproveitando as características de flutuação e flexibilidade da totora.
Taquile e Amantaní
A ilha Taquile preserva tradições têxteis reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Os homens tecem chullos (gorros) cujo design e cores indicam seu estado civil e social, enquanto as mulheres elaboram faixas e xales com técnicas herdadas de geração em geração.
A caminhada por trilhas pavimentadas de origem inca conecta terras agrícolas onde cultivam batata, quinua e favas adaptadas à altitude extrema. Não existem veículos motorizados na ilha, e a comunidade se organiza por meio de sistemas de cargos rotativos que mantêm a coesão social.
Amantaní, conhecida como a “Ilha do Amor”, apresenta dois templos cerimoniais em seus pontos mais altos: Pachatata (Pai Terra) e Pachamama (Mãe Terra). As famílias locais recebem hóspedes em suas casas, compartilhando refeições tradicionais e atividades cotidianas como o pastoreio de ovelhas e a fiação de lã.
Cultura e tradições na altura
A cidade de Puno funciona como capital folclórica do Peru, celebrando mais de 350 danças tradicionais durante o ano. A Festividade da Virgem de Candelária em fevereiro transforma as ruas em cenários onde milhares de dançarinos interpretam coreografias que narram mitos andinos e episódios históricos.
Os trajes das diferentes danças requerem meses de preparação e investimentos significativos das famílias participantes. Os bordados incluem fios de ouro e prata, enquanto as máscaras esculpidas em gesso representam personagens mitológicos como diabos, anjos e animais sagrados.
O mercado Bellavista funciona como centro de intercâmbio comercial entre o altiplano e a selva, oferecendo produtos como charqui (carne seca), chuño (batata desidratada) e coca, junto com frutas amazônicas transportadas dos vales orientais. Este intercâmbio comercial mantém conexões econômicas que existiam desde os tempos pré-incas.

Paracas e as ilhas Ballestas
A península de Paracas protege ecossistemas costeiros únicos onde o deserto encontra o oceano Pacífico. As águas frias da corrente de Humboldt criam condições ideais para uma biodiversidade marinha excepcional que sustenta milhões de aves marinhas.
Reserva nacional de Paracas
Esta reserva protege 335.000 hectares de ecossistemas marinho-costeiros onde flamingos, pelicanos e pinguins de Humboldt coexistem em uma paisagem desértica única. As praias de areia vermelha contrastam com penhascos rochosos esculpidos por milênios de erosão marinha.
A Catedral de Paracas, uma formação rochosa natural em forma de arco, desabou durante o terremoto de 2007, mas outras atrações como a Praia Vermelha mantêm sua beleza cênica. A coloração avermelhada vem de sedimentos vulcânicos e conchas trituradas que criam tonalidades mutáveis de acordo com a luz solar.
Os ventos constantes de Paracas alcançam velocidades superiores a 30 quilômetros por hora, criando condições ideais para esportes como kitesurf e windsurf. As dunas móveis avançam constantemente, enterrando e revelando sítios arqueológicos das culturas Paracas e Nazca.
Avistamento de fauna marinha
As ilhas Ballestas abrigam a maior concentração de vida marinha do Peru. Leões marinhos sul-americanos formam colônias de até 8.000 indivíduos em praias rochosas onde também nidificam cormorões, piqueros e zarcilhos. O passeio de lancha rápida dura 2 horas e permite observar essa fauna a distâncias que não perturbam seu comportamento natural.
Os pinguins de Humboldt, espécie endêmica da corrente marinha peruana, constroem ninhos em cavernas e fendas rochosas. Esses pinguins podem mergulhar até 150 metros de profundidade em busca de anchovas, seu alimento principal. Durante certos meses, você poderá observar juvenis aprendendo técnicas de pesca sob a supervisão de adultos.
As águas circundantes ocasionalmente recebem visitas de golfinhos nariz de garrafa e baleias jubarte durante suas migrações sazonais. Os golfinhos costumam acompanhar as embarcações, saltando nas ondas enquanto demonstram sua agilidade aquática.

Linhas de Nazca e o candelabro
O Candelabro de Paracas, um geoglifo de 180 metros gravado na encosta de um morro, permanece visível do mar a vários quilômetros de distância. Sua origem e significado geram debates acadêmicos, mas sua localização estratégica sugere funções de navegação para culturas pré-colombianas.
A proximidade com as Linhas de Nazca (2 horas de carro) permite combinar ambas as experiências em uma única viagem. Muitos visitantes incluem o sobrevoo das linhas após o passeio marinho, aproveitando que o aeródromo de Pisco oferece voos regulares para as pampas nazcas.
As teorias sobre o Candelabro incluem desde marcador astronômico até símbolo religioso relacionado com a constelação da Cruz do Sul. Sua técnica de construção, mediante a remoção de pedras escuras para revelar areia clara, replica os métodos utilizados em Nazca.
Puerto Maldonado e a Amazônia
A porta de entrada para a selva sul do Peru conecta os Andes com a bacia amazônica, onde os rios Tambopata e Madre de Dios transportam sedimentos das montanhas criando ecossistemas de extraordinária biodiversidade. Puerto Maldonado funciona como base para explorar a selva primária menos intervenida do país.
Reserva nacional de Tambopata
Esta reserva protege 274.690 hectares de selva amazônica que abrigam 1.200 espécies de borboletas, 600 espécies de aves e 200 espécies de mamíferos. Os lodges ecológicos localizados no interior da reserva funcionam com energia solar e sistemas de tratamento de águas que minimizam o impacto ambiental.
As caminhadas noturnas revelam a atividade de animais como rãs venenosas, aranhas tarântulas e morcegos que emergem após o pôr do sol. Os guias especializados utilizam lanternas para localizar olhos brilhantes entre a vegetação, identificando espécies por seus sons e comportamentos característicos.
O dossel da selva atinge alturas de 40 metros, criando níveis de vegetação com microclimas específicos. As torres de observação permitem acessar este ecossistema aéreo onde vivem macacos, preguiças e aves que raramente descem ao solo da floresta.
As collpas (saladeros naturais) atraem araras, papagaios e mamíferos que consomem argila rica em minerais essenciais para sua dieta. O espetáculo matutino de dezenas de araras se alimentando simultaneamente cria um caleidoscópio de cores contra o verde da selva.

Lago Sandoval e biodiversidade amazônica
Este lago de origem meândrica abriga jacarés negros, lontras gigantes e mais de 100 espécies de peixes. A caminhada de acesso atravessa selva primária onde árvores centenárias como cecropia e figueira criam catedrais vegetais com tetos verdes que filtram a luz solar.
As lontras gigantes, espécie em perigo de extinção, formam grupos familiares que caçam peixes de forma coordenada. Esses mamíferos aquáticos podem alcançar 2 metros de comprimento e vocalizar com mais de 20 sons diferentes para se comunicar entre os membros do grupo.
Os jacarés negros, predadores de topo do ecossistema aquático, alcançam comprimentos superiores a 4 metros. Durante os passeios noturnos em canoa, você poderá observar seus olhos brilhantes refletindo a luz das lanternas enquanto permanecem imóveis nas margens do lago.
A diversidade de aves inclui espécies endêmicas como o hoatzin, ave primitiva que conserva características evolutivas únicas como garras nas asas juvenis. Os martins-pescadores, tucanos e tangarás criam uma sinfonia de sons que acompanha os passeios lacustres durante todo o dia.